Resgatar milhas ou ir para a escola?

Recentemente, viajei para o exterior, após o período de férias escolares, e fiquei alarmada com o número de crianças e adolescentes que viajavam a passeio em pleno período escolar com suas respectivas famílias. Viajar é aprender. É uma ótima oportunidade de estabelecer contato com outras culturas e idiomas.

Como faz parte da minha profissão, tenho o hábito de observar as pessoas que estão ao meu redor e, consequentemente, as situações vividas por elas.

Brasileiro gosta de uma conversa, portanto era fácil iniciar um papo com famílias que estavam no restaurante enquanto esperávamos a comida chegar ou no transporte coletivo que nos levava a alguma atração turística.

Entre o assunto relativo ao clima, ao das compras e do entretenimento, fazia questão de perguntar sobre a escola e seus afazeres. Nesse momento, os pais ou filhos tinham a resposta na ponta da língua:

“A aula já começou, mas vir para cá nesse período fica muito mais barato!”

“Em agosto não tem tanta gente e é possível aproveitar mais!”

“No mês de julho, não é possível resgatar as milhas que a companhia aérea oferece!”

“Conversei na escola e ficou tudo acertado. Minha filha trouxe algumas tarefas e ela faz um pouco a cada dia.”

“Sou bom aluno e recupero fácil a matéria que perdi.”

“Pago uma taxa na escola e faço as provas perdidas no dia agendado. Tenho uma segunda chance.”

“Se precisar contratarei um professor particular para resgatar a matéria perdida.”

Durante certo período do ano letivo, extremamente decisivo, pais e instituições escolares autorizam e bancam a ausência do filho/aluno na escola. É fato!

Sou do tempo que faltar na aula era permitido somente em caso de doença ou morte. Família e escola eram mais rigorosas com seus princípios e as regras eram cumpridas sem restrições.

Vivemos na era do consumo e vejo o quanto está difícil fazer escolhas conscientes!

Sabemos que crianças e jovens aprendem aquilo que é ensinado pelas atitudes tomadas. Então… o que os pais estão ensinando aos filhos? Que visões de mundo estão transmitindo? Que significado tem a escola, hoje, para alunos e famílias? Quais são os prejuízos que o aluno terá faltando às aulas vários dias seguidos? Que ideologia a escola está preocupada em ensinar?

O mundo de hoje pensa no eu, no agora, no desejo e não na necessidade.

Será que nossos futuros profissionais estarão preparados, emocionalmente, para enfrentar uma agenda rígida e saberão honrar um compromisso de trabalho? Serão persistentes e determinados para enfrentar situações do cotidiano corporativo, ignorando o exemplo dado na infância sobre “dar um jeitinho” ou desrespeitar compromissos assumidos?

Eu sei que não são todos os pais que pensam como esses que encontrei nessa viagem, mas antes de reclamar que o jovem de hoje gosta de transgredir as normas, que é um consumidor nato, que desiste com facilidade das atividades que se propõe a fazer e que prioriza a vontade e não a necessidade pense na educação dada aos filhos e nos valores que foram transmitidos a eles.

Talvez seja hora da escola ajudar seus alunos e famílias a se comprometerem com suas escolhas e não só consigo mesmas.

Precisa de ajuda na Educação? Podemos te auxiliar!

    Thais Bechara

    Meu nome é Thaís Bechara. Sou professora, pedagoga, mãe, psicopedagoga e orientadora educacional (exatamente nessa ordem). Com sólida experiência na área da Educação Infantil e Ensino Fundamental, sempre atuei em colégios de grande porte e de destaque no mercado.

    Sou graduada em Pedagogia (Orientação Educacional e Administração escolar), com Curso de Especialização em Psicopedagogia (“lato sensu”) pela PUC-SP- área institucional.

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